sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Morre-se de solidão no meu país, de Piedade Araújo Sol

A solidão e o tempo. Entre eles, ou dentro deles, a morte lenta. A melancolia como pano de fundo. Um e outro, a solidão e o tempo, escurecem os cantos das paredes, das casas, dos dias e da alma de um país (e das pessoas, por que não?). Até a Natureza, tão bela e rica, abate-se frente ao abraço da solidão e ao esquecimento do tempo. Na primeira estrofe, a solidão se espalha nas coisas e nos dias. Na terceira, a esperança passa pelas estações do ano como uma possibilidade. Ao fim, uma antítese do drama existencial: “morre-se devagar” e “depressa tudo se esquece”. Poema com ideias bem trabalhadas e tom entristecido. A autora é portuguesa. Seu blog é http://www.olharemtonsdemaresia.blogspot.com/ .



Morre-se de solidão no meu país

(Piedade Araújo Sol)



A solidão prolongada
Em forma de sombras
Neutras
Esbatidas
Infiltrada nas paredes
das casas fechadas – com gente dentro
e a noite a fechar o dia mais uma vez
duas vezes – muitas vezes

e morre-se devagar no meu país

as árvores no Outono estão nuas – esquálidas
no Inverno o frio magoa os ossos e a alma
mas talvez os melros cantem antes da próxima primavera
se o verão chegar todos os dias
no sol de uma tigela de sopa fraterna

morre-se devagar no meu país

e depressa tudo se esquece


(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)

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