Espaço para divulgação de poesias selecionadas. Velhas e novas poesias, trazidas do fundo do baú ou das últimas viagens virtuais. Belos poemas brevemente comentados.
sábado, 18 de agosto de 2012
Autorretrato, de Gustavo Felicíssimo
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Poema Novo, de Sérgio Souza
sexta-feira, 1 de junho de 2012
O velho Pubi, de Mauro Ulrich
Meu avô ia na venda
à tardinha
e na volta me trazia
um punhado de balinhas coloridas,
que eu comia com prazer
na concha de suas mãos.
As balas tinham gosto de fumo,
de cachaça
e de fundo de bolso
de calças.
Em troca eu tinha que lhe tirar os sapatos,
contar do meu dia
e manter sempre quente
a água do chimarrão.
Até que teve uma tarde que ele foi na venda
e não mais voltou.
Nunca mais balinhas coloridas.
Nunca mais tirar os sapatos.
Nunca mais contar do meu dia.
A água do chimarrão esfriou.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Aniversário, de Afonso Estebanez
domingo, 20 de maio de 2012
Catando bascui, de Lília Diniz
terça-feira, 20 de março de 2012
O Deus que habita em mim, de Elias Akhenaton
segunda-feira, 19 de março de 2012
A pressa dos dias, de Sérgio Bernardo
E então o eu poético é tomado pela natureza (água/cão amoroso).
Depois, o mistério, a interrogação que sempre paira sob as asas do desconhecido amanhã.
Destino, natureza, mistério. Amplas variações de abstratas viagens pelo universo exterior.
A partir da terceira estrofe, a rotina do cotidiano irrompe no seio do poema,
como a demarcar o espaço primordial do eu poético. Jornais, gato, volumes, rua, casa, dia. Muda-se a direção("porque há muito migrou/para uma dimensão contrária"):
A pressa dos dias
(Sérgio Bernardo)
Sem outra opção, amanheceu.
Deixou a água lamber seu rosto
como cão amoroso.
Ao dormir, havia o mistério:
acordaria? não acordaria?
Ninguém decifra a intenção do seguinte.
Aqueles jornais ancorados no ladrilho
trarão notícias de um lugar ignorado,
porque há muito migrou
para uma dimensão contrária.
Serão lidos como obra de ficção,
aqui e ali uma tentativa de poesia
primariamente rimada.
Olhará o gato como animal extinto,
mas encherá o pote de leite
conforme toda manhã.
Sairá à rua abraçado a volumes
(a pasta de couro, papéis, guarda-chuva)
uma rua que o desconstruirá a cada passo.
Terá pressa. Chegará atrasado. Voltará para casa.
Assim: coadjuvando o dia.
(Obs.: o autor autorizou a postagem do poema acima.)
quarta-feira, 14 de março de 2012
14 de março, Dia Nacional da Poesia
sexta-feira, 2 de março de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Interzona, de Celso Mendes
Um ser em pleno dilaceramento físico e mental. As palavras e os versos (referenciados na 1ª estrofe) já denotam as turbulências na mente aflita do eu poético. E só no amanhã haveria esperança de “um sorriso novo para este lamento”. Mas não adianta, pois “não há amanhãs, amanhãs são apenas sonhos”. Nem os versos nem o sorriso podem estabelecer a ordem, a paz interior. O eu poético volta-se então para o corpo físico, que se prende “às ervas daninhas da relva rasteira/para não deixar meus cacos à deriva”. O corpo bate em pedras, coleciona hematomas, enfeita-se com cicatrizes. O corpo é posto como objeto de expiação. Do corpo, portanto, nenhuma ajuda viria. Mas dos versos e das palavras, desses havia uma certa expectativa silenciosamente cultivada. E frustrada: “onde estariam aqueles versos da zona de luz?”. Um eu poético que não encontra amparo nem na estrutura física nem na textura mental. Poema de grande riqueza imagística, graças sobretudo aos jogos metafóricos (“palavras insolúveis passeiam em minha noite”, “versos da zona de luz”, “sorriso novo para este lamento”, “entristecer-me o azul”, “cacos à deriva”, “mãos amassam coágulos de vida”). Também são dignas de nota as personificações de sentimentos e objetos (palavras que passeiam, “o tato rubro de uma saudade/acariciar-me a nuca”, o corpo que coleciona hematomas). Poema em que nossa atenção se dilui entre a dor do eu poético e a beleza das imagens que serviram para descrever essa dor.
Interzona
(Celso Mendes)
palavras insolúveis passeiam em minha noite
infestadas de estrelas, aromas e pios de coruja,
ao tempo em que a boca esboça versos
que se prendem na zona de luz
e as mãos amassam coágulos de vida.
amanhã talvez eu percorra outras vitrines
e arranje um sorriso novo para este lamento
alojado em minha epiglote. não sei porquês,
mas sei que assim é, pois sinto o tato rubro de uma saudade
acariciar-me a nuca e entristecer-me o azul.
mas não há amanhãs, amanhãs são apenas sonhos:
prendo-me às ervas daninhas da relva rasteira
para não deixar meus cacos à deriva
enquanto meu corpo cansado bate nas pedras da corredeira
a colecionar hematomas que são só meus
e guardo com carinho. visito apenas caminhos que pisei
à espera de que a lua me embale o sono.
visto-me da mesma pele de sempre
adornada de conhecidas cicatrizes. acomodo-me,
aguardo o acordar com novas marcas.
neste então,
flutuo entre a relva e as pedras.
onde estariam aqueles versos da zona de luz?
(Obs.: o autor autorizou a postagem do poema acima.)
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Elegíaca, de Raimundo de Moraes
Elegíaca
(Raimundo de Moraes)
"A palavra é a minha quarta dimensão."
Clarice Lispector
Segui os passos
da menina de Tchetchelnik.
Dez luas passaram flechadas por Sagitário
Maçãs no claro ofertam-se de tanta maturação:
ensangüentadas, reluzem. Balançam lustres
em din-dlens de poeira suja.
Aqui
a Praça Maciel Pinheiro
circunda o Tempo.
O casarão 387
é agora insípido e laranja
(mas vi entre uma e outra janela
a menina sorrir para mundos distantes).
Longe
as esquinas de Nápoles Berna Torquay Washington.
(As esquinas do mundo são iguais
quando punge à solidão
a lembrança de tudo que fomos).
Corro pelos caminhos de mais um solstício
a cidade ergue-se em dóricas faiscantes
escaravelhos brotam da terra
e no rosto eslavo
pupilas pulsam quasars.
É por ti:
elevo-me à tua memória.
Candelabros iluminando a noite
o Kaddish arrebanhando os perdidos como nós
- percorro os caminhos da mulher de Tchetchelnik.
O olhar oblíquo.
A boca rubra.
A safira no dedo.
A Estrela de Mil Pontas
rompendo gargantas. É Palavra.
Aponta Sagitário mais uma seta em riste.
Agora, sabeis: no coração selvagemente livre.
(Obs.: o autor autorizou a postagem do poema acima.)
sábado, 11 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Um punhado de palavras, de Ana Paula Mateus
Um punhado de palavras
(Ana Paula Mateus)
Trago um punhado de palavras
guardadas nas mãos em concha.
Encontrei-as nos livros, ditas pelos poetas...
Li-as nas estrelas... Emprestaram-mas os deuses...
Roubei-as à tua boca.
São palavras brilhantes, luminosas,
palavras de riso claro,
sussurradas ao ouvido no instante do abraço,
palavras ardentes, soltas
no beijo dado com a urgência da saudade.
São palavras perfumadas,
cheiram a eucalipto orvalhado pela manhã,
cheiram a velas queimadas em dia de aniversário,
cheiram a terra molhada
e a relva acabada de cortar...
São palavras musicais, como um espanta-espíritos
em dança vadia com o vento ao cair da tarde...
Foram escritas na areia da praia,
sobrevivendo aos vendavais
e aos pés descalços dos caminhantes,
à fúria das gaivotas e ao abraço salgado
das ondas inconstantes...
São fortes e indeléveis.
São eternas as minhas palavras.
E quando às vezes me engano na estrada
ou me perco nos caminhos,
quando sinto os passos cansados ou inseguros,
sento-me na berma e olho-as de frente,
tatuadas na pele gasta das mãos calejadas...
Leio-as muitas e muitas vezes...
Repito-as baixinho...
E passa-me o frio cá dentro.
(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Asilo, de Fabrício de Queiroz Venâncio
Asilo
(Fabrício de Queiroz Venâncio)
Na estante, a camisa desbotada;
armários, madeira, mofo:
a alergia já tomou conta.
Não se sabe o turno do tempo,
derradeira visita é lembrança falha
no derreter das horas.
A cadeira balança preguiçosa;
corpo, odor, sujeira:
não houve banho esta manhã.
Uma lágrima corre atrevida,
e a criança tropeça nos pés moles
que incomodam a passagem.
(Obs.: o autor autorizou a postagem do poema acima.)
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Poema de Neuzza Pinheiro
Medo
que um filho adoeça
que uma árvore não cresça
o céu desabe sobre a minha cabeça
Medo
que meu homem não volte
que algum deus se revolte
a lua se canse e desapareça
Medo
que o tempo não baste
que a vida me falte
eu des
aconteça...
(Neuzza Pinheiro)
(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Solidão tão minha, de Ana Kosby
Solidão tão minha
(Ana Kosby)
Me busca no espaço este vazio do corpo
solidão tão minha
esta de sentir-me apenas luz
pairando sobre os leitos de carne
despida de obrigação,
de direitos de criação
coberta de penas e castigos
tecidos umbigos de genes
incongruentes, parentes
parênteses entre o ser e o não existir
além da expectativa humana
tão vil, vulgar, material e insana.
herança?
Apenas a triste esperança da liberdade
no réquiem solitário.
Solidão tão minha...
placentária, planetária
alma além da idade
burra velha, carregando
nas costas o peso da sociedade.
(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Vídeos poéticos
Bluebird - Poema de Charles Bukowski (LEGENDADO)
No meu jardim - Poema de Miguel Torga