Poema rico em significâncias poéticas. O medo inicial volta-se para o que os olhos veem; em seguida, o medo se estende ao que não está sob o olhar do eu poético; por fim, abarca o tempo, a vida, o próprio eu. Ou seja, numa ponta, o que está próximo, o que está distante e o que se revela intangível; em outra ponta, o medo do fim da descendência (o filho, a árvore), do fim da subsistência (emocional/espiritual, homem/deus) e do fim da própria existência (o tempo, a vida, o eu). Em cada estrofe, a supressão de algo que conecta, que estabelece a ligação física no poema(no caso, o “que”). No entanto, há uma supressão e um corte maiores e mais profundos na última estrofe, na qual a supressão vai além do aspecto físico: é o existir que se encontra partido (“eu des/aconteça...”), carente, incompleto, faltando. Outra riqueza do poema é como se estrutura o inventário dos (possíveis) personagens furtivos causadores dos medos: o tempo na primeira estrofe (talvez não haja tempo!), o criador/mantenedor na segunda (deus/homem) e a morte na terceira estrofe (a morte que extingue o tempo, a vida, o eu). Muita riqueza sob as nuvens do medo.
Medo
que um filho adoeça
que uma árvore não cresça
o céu desabe sobre a minha cabeça
Medo
que meu homem não volte
que algum deus se revolte
a lua se canse e desapareça
Medo
que o tempo não baste
que a vida me falte
eu des
aconteça...
(Neuzza Pinheiro)
(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)
grata, Bernardo, gosto de ver meus versos se espalhando, é bom ler também a leitura que vc fez .
ResponderExcluirgrande abraço
neuza pinheiro