Uma
cena poética: um menino que comia balinhas coloridas das mão do avô
e que, um dia, fica esperando o avô voltar. E o avô não volta.
Daria um belíssimo curta-metragem. Dá até para imaginar o olhar
triste do menino, o olhar perdido na estrada de barro no final de uma
tarde de pouco sol. Essa cena não existe nas telas, mas existe, em
preto e branco, no poema O velho Pubi. Uma cena repleta de
imagens trazidas dos baús da infância, onde ficam guardadas para
momentos como esse fazer poético. A aparente simplicidade do poema
esconde, talvez, a beleza e a riqueza sentimental de imagens como a
“concha de suas mãos” e do gosto “de fundo de bolso/de
calças”. O contar do dia leva o leitor a refletir sobre a
espontaneidade das palavras na infância e sobre a amargura no
silêncio do “Nunca mais contar do meu dia”. Maravilha de poema!
O
velho Pubi
(Mauro
Ulrich )
Meu avô ia na venda
à tardinha
e na volta me trazia
um punhado de balinhas coloridas,
que eu comia com prazer
na concha de suas mãos.
As balas tinham gosto de fumo,
de cachaça
e de fundo de bolso
de calças.
Em troca eu tinha que lhe tirar os sapatos,
contar do meu dia
e manter sempre quente
a água do chimarrão.
Até que teve uma tarde que ele foi na venda
e não mais voltou.
Nunca mais balinhas coloridas.
Nunca mais tirar os sapatos.
Nunca mais contar do meu dia.
A água do chimarrão esfriou.
Obs.: foi solicitada
autorização ao autor. No entanto, não houve resposta. Caso o
autor tenha alguma objeção à postagem do poema acima neste blog, favor comunicar através do e-mail jberna68@gmail.com.br. De qualquer forma, este blog agradece ao autor a existência do poema.