Poesia, palavras sempre
em falta. Não bastam sentimentos, gestos, vozes. Nem mesmo o
acelerar do coração seria suficiente para o fazer poético. O poema
faz uma breve reflexão sobre esse fazer poético. Primeiro, a sensação
de que não há palavras. Segundo, a percepção de que há sempre
algo não apreendido no sonho que se esvaiu na realidade. E então
“Faltam palavras para se contar um conto/Quando o ponto maior é
o descuido/De um instante livre como liberdade”. Todavia,
persiste (ou apenas existe) a constatação consoladora de que esse é
caminho do fazer poético: “Fazer poesia assim é entrega e
busca” e “Que saudade não tem tradução”. Assim,
ao ver e não poder tocar, ao sentir e não poder dizer, ao querer e
não poder ter, o eu que faz poesia se vê diante de forças que
remetem seu olhar para “A beleza, a graça, o querer”.
Poema com uma dicção leve, que parte de um tom confessional e se
encerra numa constatação reparadora. Fazer poesia sobre poesia
continua a ser algo extremamente comum em nosso tempo. Difícil é
transformar a angústia — que,
no poema, não é a angústia da influência do Harold Bloom, mas a
angústia inerente ao ato de traduzir, com as palavras “certas”,
coisas muitas vezes intraduzíveis —,
transformar essa calma e desesperada busca num poema que diga algo
interessante, algo que provoca a reflexão (com ou sem angústia, a
depender do tipo de leitor) já não é tarefa tão fácil. O poema
abaixo parece representar bem essa busca bem-sucedida.
Poema Novo
(Sérgio Souza)
Difícil é para a
poesia
Quando faltam palavras
E sobra alegria,
Difícil é para a
poesia
Quando os gestos são
mais que fonética
E o peito bate sem
compasso
Perdido num abraço,
num olhar.
Difícil é para a
poesia
Quando o sonho é uma
realidade
Sonhada com a
sinceridade do dia
E a imaginação de uma
noite;
Faltam palavras para se
contar um conto
Quando o ponto maior é
o descuido
De um instante livre
como liberdade
Infanto-juvenil ou
serenidade senil.
Fazer poesia assim é
entrega e busca,
É sentir no espalmar
das mãos
O calor interior que
invade o cérebro,
Que embarga o sentido,
É constatar com
felicidade no coração,
Na prática, longe da
gramática
Que saudade não tem
tradução,
Pois no encontro
dessas realidades estão
A beleza, a graça, o
querer.
(Obs.: o autor autorizou a postagem do poema acima.)
AS PORTAS DO VERDADE É, SE LHE PARECE ESTARÃO SEMPRE ABERTAS PARA VC. ABRAÇOS. SERGIO SOUZA.
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