O poema começa num golpe inevitável do destino: o amanhecer.
E então o eu poético é tomado pela natureza (água/cão amoroso).
Depois, o mistério, a interrogação que sempre paira sob as asas do desconhecido amanhã.
Destino, natureza, mistério. Amplas variações de abstratas viagens pelo universo exterior.
A partir da terceira estrofe, a rotina do cotidiano irrompe no seio do poema,
como a demarcar o espaço primordial do eu poético. Jornais, gato, volumes, rua, casa, dia. Muda-se a direção("porque há muito migrou/para uma dimensão contrária"):
E então o eu poético é tomado pela natureza (água/cão amoroso).
Depois, o mistério, a interrogação que sempre paira sob as asas do desconhecido amanhã.
Destino, natureza, mistério. Amplas variações de abstratas viagens pelo universo exterior.
A partir da terceira estrofe, a rotina do cotidiano irrompe no seio do poema,
como a demarcar o espaço primordial do eu poético. Jornais, gato, volumes, rua, casa, dia. Muda-se a direção("porque há muito migrou/para uma dimensão contrária"):
de um lugar externo e ignorado para dentro do eu poético. Nessa dimensão interior, os jornais (e quiçá a própria vida) "Serão lidos como obra de ficção,/ aqui e ali uma tentativa de poesia". A tentativa de poesia é significativa: representa a possibilidade de haver harmonia e beleza. Mas o rotina se impõe: o leite do gato, a ida ao trabalho, o atraso. Essa rotina desconstrói o interior e o exterior do eu poético. Morre a possibilidade de harmonia e beleza. O eu passa pelo dia como uma breve e insignificante brisa crepuscular ("coadjuvando o dia").
Encerra-se aqui o comentário desse belo e premiado poema. No entanto, não resisti a um adendo extemporâneo: “Assim:” o eu volta para casa, para dentro de si mesmo, onde há possibilidade de poesia.
A pressa dos dias
(Sérgio Bernardo)
Sem outra opção, amanheceu.
Deixou a água lamber seu rosto
como cão amoroso.
Ao dormir, havia o mistério:
acordaria? não acordaria?
Ninguém decifra a intenção do seguinte.
Aqueles jornais ancorados no ladrilho
trarão notícias de um lugar ignorado,
porque há muito migrou
para uma dimensão contrária.
Serão lidos como obra de ficção,
aqui e ali uma tentativa de poesia
primariamente rimada.
Olhará o gato como animal extinto,
mas encherá o pote de leite
conforme toda manhã.
Sairá à rua abraçado a volumes
(a pasta de couro, papéis, guarda-chuva)
uma rua que o desconstruirá a cada passo.
Terá pressa. Chegará atrasado. Voltará para casa.
Assim: coadjuvando o dia.
(Obs.: o autor autorizou a postagem do poema acima.)
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