O título já nos induz a algum tipo de reflexão poética (além da existencial, obviamente). A primeira estrofe nos remete a um contexto quase que impensável antes da leitura: sem filhos biológicos, talvez tenhamos filhos pelos nebulosos caminhos da poesia. A segunda expressa o desejo de que a alma espalhe renascimentos poéticos. A terceira faz uma ponte entre os amores (falidos ou inexistentes) deste mundo com os amores de um outro mundo que reluz mil ouros, ou seja, amores reluzentes. No entanto, o eu poético pode morrer de algum outro tipo de amor. A quarta estrofe abranda os anseios e expõe apenas o desejo de que não haja trajes de luto. E, por fim, a quinta e última estrofe, onde é realizada a fusão, no desejo, entre o vagar pelo etéreo e pelo concreto, entre céus e bocas e línguas. Um poema que fala de morte quase que ludicamente. E a morte, tal desejada no poema, deve ser breve, calma, de amor e sem luto. Que morte linda! Que lindo poema!
se eu morrer por esses dias
(Daniela Damaris)
se eu morrer por esses dias
que morra de morte bem breve
que de leve se encostem os cílios
e que os filhos que ainda não tive
nasçam dos versos que aqui deixei
se eu morrer por esses dias
que seja de morte bem calma
que a alma lhes cante auroras
em ases e reis
de poesia
se eu morrer por esses dias
decerto morro de amores
que não há neste
ou noutro mundo
bem que tais mil ouros reluz
se eu morrer por esses dias
não há que trajarem luto
que já morri em cada rima
em que amores
se conduz
que já sou alma que vaga em vida
morta basta que siga
a vagar em céus de negro e sombras
e em bocas secas que rondam
por línguas ébrias de amar
(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)
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