sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mar-Horto, de Cláudia Cordeiro

Um poema trágico no sentido contemporâneo da palavra. Tormento, o Mar-Horto, para mortos e para vivos. A impessoalidade do poema não esconde uma silenciosa tristeza diante das constatações das três primeiras estrofes. Ao final, a angústia. Não aquela tão cantada e indefinida em poemas e romances, e sim aqueloutra sensível e concreta: a dos olhos que veem “o arcabouço apodrecido dos sonhos”. (Poema extraído da intenet.)


Mar-Horto

(Cláudia Cordeiro)

Esta não é a água
cristalina de beber
nem abençoada de benzer

É a água de cem mortos
pedaços de corpos
boiando na luz da manhã.

À noite,
ondas vermelhas
tropeçam
em mãos, pés, braços, orelhas...
no recuo da praia.

Angústia
do morto, do torto:
o arcabouço apodrecido dos sonhos.

Angústia maior:
a de ter olhos de ver.


(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)

Um comentário:

  1. Bernardo, muito obrigada pela sua gentileza. Foi uma grande supresa. Você deve ser um navegante e tanto, porque esse é um dos meus raríssimos poemas. Não escrevo mais, porque todo poema que eu escrevia era muito triste e eu sou apaixonada pela alegria. Obrigada também, pela análise pertinente. Parabéns e sucesso. Cláudia Cordeiro

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