RELÓGIO
(Ligia Tomarchio)
As horas batem
os minutos espancam
e o reflexo que ora vejo
estampado no tempo
relembra uma juventude
calcada nos extremos
cunhada em fogo e ferro
insanidade premente.
Nas pregas e vãos do pensamento
esquecidos lamentos
manchas senis do tempo
temperam a canja morna
o chá amargo da vida
esquecida sob o leito
onde escondidos estão todos os tempos.
Máquinas, fios, oxigênio
pontiagudas palavras tremulam
teimam em sair da boca úmida
já cansada de muito engolir.
Horas, minutos e segundos infinitos
estilhaços atemporais sem cor
só a dor encarnada responde aos olhos
redondos e secos botões
murchando a vida aos poucos
término de mais uma faceta
do poeta em vôo pleno e certo
pinçado em meio a tantos galhos.
Na escuridão do medo
ainda procura a luz naquela cortina
mina o sangue das paredes verdes
biologia do amor perverso
no gritar das horas mortas.
(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)
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