quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

De trago em trago, de Cris de Souza

Estruturado em dois blocos, o poema, hoje, segue na contramão do politicamente correto. A caça aos fumantes cresce a cada dia, é bem sabido. O texto não condena o cigarro. Mas não se trata também de uma ode ao cigarro nem ao fumante. No primeiro bloco, um eu que contempla, na fumaça, o esquecimento. No segundo, contempla o entendimento. Esquecer e entender são, na verdade, reflexões comuns aos fumantes em especial. É preciso esquecer certas coisas que ficam em suspenso, à espera de atitudes mais firmes ou objetivas. Mas é preciso entender (e aceitar) a si mesmo, filtrando virtudes e defeitos, para acordar (despertar) algo que parece poder renascer. Poema leve, suave. A fumaça também é leve, suave (de longe, bem longe!). O tema foi tratado com bastante delicadeza. Leitura reflexiva, para os não fumantes e para os fumantes. Para estes, com direito a caracóis de fumaça antes, durante e depois.



De trago em trago

(Cris de Souza)



trago
o esquecimento
na fumaça
dos meus dedos

tentando apagar
meus restos
pendurados
no cinzeiro

trago
o entendimento
no filtro
dos meus dedos

tentando acordar
meus restos
pernoitados
no cinzeiro


(Obs.: a autora autorizou a postagem do poema acima.)

Um comentário:

  1. Para os não fumantes o poema permite um belo trago de poesia.
    O comentário, por sua vez, caracóis de fumaça, antes, durante e depois.
    Bernardo, parabéns pelo blog!

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